Minhas memórias de Berimbau e da Rua Nova da Volta
Desde muito cedo meus pais me levavam para Berimbau e lá eu ficava aos cuidados de minha tia Georgina, minhas primas Nara e Fernanda, e minha bisa Joventina até mais ou menos os anos de 2004/2005.
Todo período de férias escolares era lá o meu local de felicidade onde o carinho, o amor, as brincadeiras e os cuidados andavam sempre entrelaçados, me fazendo vivenciar momentos muito importantes para a construção de quem sou hoje. Era brincando pelos matos e descobrindo o que a natureza tinha a oferecer que eu também descobria os meus medos e a minha coragem; era ouvindo as histórias das minhas tias que eu fazia minha mente sempre passear pelo passado; era escutando os versos da minha bisa que eu ficava encantada com tanta sabedoria e tanto carinho.
Tenho como recordação as idas ao centro da cidade para o dia da feira e vendo aquela rua cheia de pessoas indo e vindo, outras vendendo seus produtos, muitos senhores se encontrando para tomar uma cachaça e jogar dominó. Nas idas para a Fazenda São Francisco, me lembro de como eu via aquele casarão imenso com certo medo; eram lustres muito altos e compridos, chão de madeira, pinturas antigas, relógios enormes com pêndulos, cristaleiras com louças e cristais que ninguém poderia tocar, muitas janelas e portas tão grandes que chegavam a mais de 2 metros. Os banheiros da fazenda eram um misto de natureza e antiquários, do porta sabonete de bronze aos azulejos portugueses, tudo era muito mágico aos meus olhos, pois tudo aquilo só conseguia ver em filmes muito antigos.Poucas estradas eram asfaltadas pela cidade, apenas as principais, algumas possuíam paralelepípedos e a maioria das pessoas se deslocavam de bicicleta (hoje em dia as motos tomaram conta da cidade). As missas da igreja da praça sempre foram ponto de encontro com outros familiares e conhecidos da cidade, era o momento em que minha tia, ao final da celebração, parava para conversar um pouco e eu observava o tanto de gente que falava com ela, a Pró Georgina. Nenhuma das pessoas que mais eram conhecidas na cidade detinham grande quantidade de posses, eram sempre os comerciantes, as professoras, a senhora que costurava, a rezadeira, a parteira, o senhor que consertava tudo pela cidade; eram essas as figuras que movimentavam o município.
Durante as entrevistas pude constatar que muito do que se encontram nas páginas de pesquisa traz a história de pessoas que tinham status social pelas posses que detinham, o que no entanto não revela a verdade da vivência da cidade. Todos aqueles que sempre eram citados por meus familiares de Berimbau, eram pessoas simples, de poucas posses mas cheios de histórias e sabedoria adquirida com seus ancestrais.
A Rua Nova da Volta é o ponto de partida das minhas afetuosas lembranças da infância na cidade de Berimbau.
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