Parte 2: Os relatos sobre Berimbau e a Rua Nova da Volta
A segunda parte da entrevista semiestruturada ocorreu com minha tia Georgina da Silva e Silva por meio de ligação. Georgina mora em Berimbau desde o seu nascimento e relatou muitos fatos de sua vivência.
Um dos primeiros fatos desmistificados por ela, foi em relação a chegada da modernidade da cidade. Como apresentado em publicação anterior, constam informações em algumas páginas da internet que a chegada da BR 101 possibilitou esse desenvolvimento, no entanto ela afirma que, na verdade, foram as construções da BA 324 e a BA 084 (que vai até Irará), que possibilitou o desenvolvimento do município. Outro fato importante citado, está relacionado do Polo Subaé de Feira de Santana, que também proporcionou essa modernidade a região.
Quando conversávamos a respeito da economia local, Georgina falou a respeito da agricultura de subsistência e da produção de fumo, citada por Maria das Graças na primeira entrevista. Mas curiosamente, outra informação dita está relacionada aos alambiques do município e proximidades que tiveram grande importância na região, foram eles os alambiques de Rio Seco, Manoel de Lotas, Bom Sucesso, João Freire e São Francisco. Todos esses alambiques utilizados para produzir a cachaça tiveram grande influência na economia da cidade.
Durante a conversa, citei a respeito das famílias consideradas importantes achadas nas pesquisas, e mais uma vez foi reafirmado a questão das posses dessas pessoas e sua descendência. Georgina desmistificou essas informações, explicando que, exceto na região do centro da cidade, quem tinha grande influência nas outras parte do município era a Família Pinto, que baseava sua renda na criação de gado, mas principalmente em arrendatários devido a enorme quantidade de terras que possuía. De acordo com meu pai (José Bacelar Silva Filho), as terras da família Pinto iam de Berimbau até Amélia Rodrigues, sendo essas vendidas aos poucos durante os anos.
Minha bisavó, Joventina da Silva, trabalhou desde os 14 anos na fazenda cuidando das filhas do dono da época, Francisco Luiz Pinto, meu bisavô também chegou a prestar alguns serviços na fazenda e era considerado pessoa de confiança de Francisco, chegando até a ser convocado pelo fazendeiro a ir até uma fonte existente no local para procurar algumas moedas de ouro que haviam sido enterradas pelos antepassados. Meu pai, relatou também que durante sua infância muito frequentou a fazenda e lá também realizou alguns serviços para as então donas naquele período, conhecidas como Dinha Naninha e Dinha Zuleica. Minha família e a família Pinto tiveram grande vínculo desde o período da minha bisavó, tanto que, também conheci a fazenda, conheci as então donas naquela época, chegando a vivenciar um leilão que todo ano era realizado na igreja da fazenda.
Outra importante informação dita por minha tinha referente as famílias influentes na região é que, ainda que em registros as famílias citadas em publicação anterior fossem consideradas importantes, as que na verdade eram mais conhecidas, foram as que tiveram maior participação na cidade, curiosamente, foi relatado por ela, que a família da minha avó (mãe do meu pai), que também eram de Berimbau, encabeçavam as missas na igreja da cidade, sendo muito conhecidas pelas participações nesse âmbito.
Ainda que analfabetos, os meus bisavós incentivaram as filhas (minhas tias) a se alfabetizar e poder ter uma escolarização digna, tanto que todas elas são professoras tendo duas (Maria das Graças a Genoveva) atuado na profissão aqui em Salvador e Georgina em Berimbau, seguindo essa herança, minhas primas Nara da Silva e Silva e Ely Fernanda da Silva e Silva (filhas de Georgina) chegaram a fazer o magistério e também atuaram como professoras logo cedo. Atualmente Nara segue como Mestre na área da Educação e Fernanda na área de contabilidade. Como relatado por minha tia, a lei da roça era o trabalho ficando a educação para último plano, o que no entanto não tornou uma lei dentro da minha família.
Uma curiosidade dita e muito válida para ser compartilhada é que, meu bisavô conhecido como Milu, um homem analfabeto que passou toda a vida trabalhando na roça, era conhecido como o ortopedista da região, a expressão usada por meu pai e minhas tias foi "ele encanava perna, encanava braço", esse fato se dava por conta da forma como ele imobilizava os membros que sofriam alguma fratura usando telha com leite de janaúba. E mesmo sem conhecimento da medicina, conseguia colocar os ossos no lugar e ajeitar as fraturas e por realizar esses procedimentos era muito conhecido na região e ainda assim não possuí seu nome nos registros como pessoas importantes da cidade ainda que fosse muito conhecido e muito cogitado no município.
Abaixo alguns registros pessoais de alguns locais na Fazenda São Francisco.
Aqui sou eu em 2004 na varanda da casa principal
Na primeira foto meu pai e minha tia Genoveva voltando de uma pequena capela chamada Capela dos Milagres (2004). Na segunda foto eu e minha tia Genoveva fazendo uma oração dentro da pequena capela. Nela jorrava uma água que muitos diziam ser uma água milagrosa.
Na primeira foto meu pai e minha tia Genoveva voltando de uma pequena capela chamada Capela dos Milagres (2004). Na segunda foto eu e minha tia Genoveva fazendo uma oração dentro da pequena capela. Nela jorrava uma água que muitos diziam ser uma água milagrosa.
A escrita está bem contextualizada com a história da cidade que se junta com os fatos históricos e se condensa com a narrativa oral, além da perspicácia da entrevistadora e o mais belo de tudo o resgate histórico, afetivo que num futuro próximo essa escrita será referência para outros escritos sobre este local de tão bem redigido que está.
ResponderExcluirAmo ouvir histórias de pessoas vindas de outro local. É massa ver como é grande o afeto que elas tem com sua cidade natal.
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